Sou pobre e não tenho
alma. Perdi-a enquanto caminhava rota, embalada pelo vento, pelas ruas da
cidade. Dormi por baixo dos ferros que se curvavam sobre mim, formando um
abrigo. Adormecia todas as noites com a placa “Ponte dos Miseráveis” em frente
dos olhos. Ali era a minha casa, mas nunca foi o meu lar. Esse já estava
enterrado à muito. Vivi ali anos infindáveis, angústias sem fim, amargura
eterna. Nunca sorri até te ver, até sentir o teu calor que aqueceu o meu corpo
que estava do outro lado da rua. As cinzas transformaram-se em carne, eras tu.
Surgiu vida ao fim de tanto tempo de desespero. Tantos anos deambulei pelo
mundo fora, perdida e desencaixada de todos mas nunca cessei de te procurar.
Hoje vi-te do outro lado da estrada. Quis tocar-te, desejei o teu cheiro, estou
sedenta de ti. Reparo no reflexo que sobressai no vidro espelhado da montra que
está à minha frente. Esta sou eu?! Quem sou eu?! Eu gritava em silêncio dentro
de mim e nunca me ouvi. Foi o que vi que me despertou a atenção. Tantas rugas e
olheiras. Estou descabelada, tenho a roupa rota, cheiro mal e as minhas unhas
estão sujas de terra. Ardem-me os olhos, as minhas lágrimas são ácidas e a
rotina do choro tirou o brilho das janelas da minha alma. Estou triste. Sou
triste. Estás a fugir, espera! Olha para mim , repara nas minhas feições, sou
eu. Espera! Eu grito, tu olhas, eu grito mais, tu olhas com desprezo, sem me
reconheceres. Volta, volta para me abraçares, para me limpar as lágrimas com
beijos. Volta para me fazer feliz, eu imploro-te, leva-me de volta ao meu lar.
é verdade :b
ResponderEliminarfazes bem :)
ResponderEliminarjá agora , conheces mais algum esfoliante caseiro ? ;b
está perfeito *
ResponderEliminaroh, muito obrigada!
ResponderEliminargostei muito deste texto! <3
Que bonito, querida! Está perfeito, adorei! :)
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